Atualizado: Quarta-feira, 25 Março de 2009 as 12
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Ambos são europeus e octogenários. José Saramago,
86 anos, é escritor e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Jürgen
Moltmann, 82, é teólogo e um dos maiores pensadores cristãos da atualidade. Os
dois estiveram no Brasil no final de 2008. O primeiro recebeu uma homenagem da
Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, e participou de uma sabatina
da "Folha de São Paulo". O segundo recebeu o título de Doutor
"Honoris Causa" na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, SP.
A maior diferença entre os dois ilustres visitantes é que o português José
Saramago é o profeta da desesperança e o alemão Jürgen Moltmann é o profeta da
esperança.
No debate realizado no dia 28 de novembro no Teatro
Folha, Saramago fez sua pública profissão de fé: "Não quero ofender
ninguém, mas Deus simplesmente não existe, salvo na cabeça das pessoas, onde
estão o Diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer,
acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida". Apesar da idade
avançada e de ter ficado internado num hospital recentemente, entre a vida e a
morte, o escritor não atribui a sua sobrevivência a Deus: "Quem me salvou
foram os médicos e a minha mulher". E para provocar os que têm fé, repetiu
a velha zombaria de todos os céticos: "E Deus se esqueceu de Santa
Catarina?" Na mesma ocasião, Saramago afirmou que a Bíblia "não é um
livro que se possa deixar nas mãos de um inocente," pois "só tem maus
conselhos, assassinatos, incestos...".
Em compensação, Jürgen Moltmann, que começou a se
interessar seriamente pela teologia aos 22 anos em um campo de prisioneiros de
guerra na Escócia, afirma em seu livro "Vida, Esperança e Justiça -- um
testemunho teológico para a América Latina" que, "quando morremos,
sabemos que do outro lado da margem do rio está Jesus" e "ele nos
espera para a festa da vida eterna".
Moltmann é a maior autoridade na área de esperança
cristã graças aos seus estudos e livros. Para ele a base da esperança é Jesus
Cristo. Basta ler o que escreve em "Teologia da Esperança":
"Sem o conhecimento de Cristo pela fé, a
esperança se torna uma utopia que paira em pleno ar; sem a esperança,
entretanto, a fé decai, torna-se fé pequena e finalmente morta. Por meio da fé,
o homem entra no caminho da verdadeira vida, não somente a esperança o conserva
neste caminho. Desta forma a fé em Cristo transforma a esperança em confiança e
certeza; e a esperança torna a fé em Cristo ampla e lhe dá vida".
Em 1948, o jovem Moltmann teve que confrontar um
problema muito mais complexo que as chuvas e as enchentes de Santa Catarina. A
grande pergunta da época era "como se pode falar de Deus depois de
Auschwitz?". Num relato autobiográfico, o profeta da esperança conta:
"Nos campos na Bélgica e na Escócia experimentei o colapso das minhas
certezas, e neste colapso encontrei uma nova esperança na vida cristã". A
partir de então, Moltmann começou a se perguntar: "Como se pode não falar
de Deus depois de Auschwitz?".
Ao conceder o título de Doutor "Honoris
Causa" a Jürgen Moltmann no dia do aniversário da Reforma Protestante (31
de outubro de 2008), a Universidade Metodista de São Bernardo do Campo prestou
uma homenagem muito justa ao arauto da esperança.
Fonte: Guiame.com.br
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